quarta-feira, 13 de outubro de 2010

DONDE TU REIN, PRONDE TU RAI? Aspectos Históricos da Cultura Brasileira





Francisco Canindé Tinoco de Luna*


A cultura brasileira começou a ser gestada no contexto histórico do século XV. Vivia-se o fim da idade média e o capitalismo estava em seus primórdios. A transformação do artesanato em manufatura abriu novos mercados ao redor do mundo e esse fato forçou as grandes navegações que se tornaram possível graças às novas invenções: caravela, bússola, pólvora, papel e etc. Ao chegar a terras distantes para travar relações comerciais, os europeus acabaram descobrindo a outra parte do mundo e iniciaram um processo de colonização e aculturação dos povos nativos. Foi no bojo desses acontecimentos que nosso país foi descoberto e que se deu inicio a um longo e doloroso processo de colonização e, paralelamente, de formação da cultura brasileira.
Para entender o processo de formação da cultura brasileira precisa-se partir da premissa de que o Brasil, como país colonizado, dominado e aculturado pelos portugueses, teve uma cultura transplantada, ou seja, imposta de Portugal para cá, já que nada do que tínhamos aqui em matéria de cultura autóctone interessava aos invasores. Brancos portugueses, considerando-se civilizados, negros africanos supostamente em estado de barbárie e índios nativos taxados de selvagens, foram as correntes humanas que mais contribuíram para a formação de nossa cultura.
São aceitas três etapas no processo de formação da cultura brasileira: Cultura Colonial que se inicia em 1500 com o descobrimento e vai até 1750 com a expulsão dos jesuítas; Cultura de Transição de 1750 até 1930 com o início da era Vargas e a consolidação do poder burguês no Brasil; e Cultura Nacional que vem de lá até os dias atuais.
Na fase de Cultura Colonial prevalece e transplantação brutal da cultura européia, com o extermínio dos índios, a escravização dos negros e alienação da educação jesuítica. Esse é o período do roubo do pau Brasil e do ciclo da cana de açúcar. Nesse período não se fala português no Brasil, o idioma é a língua geral e os Jesuítas acabam sendo expulsos, inclusive para permitir a imposição da língua de Camões. Na fase da Cultura de Transição, continua os métodos da fase anterior, acrescida do enriquecimento de algumas camadas sociais em função do ciclo do ouro e o consequente surgimento da pequena burguesia. É nesse período que surge a consciência nacional, as lutas pela separação de Portugal e a independência do Brasil. A cultura de elite, os preconceitos raciais e o complexo colonial, ainda hoje presente, se formatou nessa fase. As lutas sindicais do início do século XX, fundação do Partido Comunista e a Coluna Prestes eram sintomas de que uma nova etapa da cultura nacional estava prestes a se iniciar: a cultura nacional propriamente dita.
Na fase dita de Cultura Nacional, a burguesia assume definitivamente o poder em nosso país e aflora o autêntico espírito de brasilidade na Semana de Arte Moderna. Surgem os meios de comunicação de massa – MCM, especialmente rádio e televisão e a indústria cultural com o cinema, as gravadoras musicais, o teatro profissional e as grandes editoras de livros e revistas. Nas artes surgem manifestações genuinamente nacionais como o concretismo, a poesia práxis, o poema processo, o tropicalismo, a geração mimeógrafo e a poesia marginal. No dizer de Caetano Veloso a cultura nacional teria nascido na Semana de Arte moderna em 22, teria se internacionalizado com o concretismo na década de 50 e teria se popularizado em 60 com o tropicalismo.
A cultura nacional, na atualidade, vive o momento chamado de pós-modernidade, compreendendo-se esse tal pós-modernismo, como sendo a era do tratamento informatizado do conhecimento. Época da sociedade do espetáculo e do conhecimento, na qual a informação passada com velocidade espantosa é o insumo mais importante. Um momento em que os fundamentos do mundo moderno começam a ser questionados, as crenças caem por terra, as grandes certezas não são mais as mesmas e o homem parece, perdido, caminhar em busca do nada.
O Brasil, no momento, passa por uma crise de identidade quanto aos passos que dará rumo a um futuro de destaque no conjunto das nações do planeta: implementaremos um projeto autônomo de desenvolvimento nacional ou embarcamos na onda da integração sem regras ao contexto internacional? Precisamos, urgentemente, definir nossa identidade enquanto nação do século XXI: seremos o Brasil de Tiradentes ou de Joaquim Silvério dos Reis?

REFERÊNCIAS

BOSI, A. Cultura brasileira: temas e situações. São Paulo: Ática,s.d.
BRAGA, J.A. Cultura Brasileira. Fortaleza: Faculdade Gama Filho, 2001.
SODRÉ, N.W. Síntese da história da cultura brasileira. 20. ed. Rio de Janeiro: Bertrond do Brasil, 2003

*Professor da Faculdade do Vale do Jaguaribe – FVJ, Especialista em Língua Portuguesa, Leitura e Produção de Textos e Especialista em Metodologia e Docência do ensino Superior.

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